quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Gabriella

 

Seus pais já tinham dado permissão para usar o carro e ela estava terminando sua maquiagem leve quando a menina do MSN ligou e avisou que em mais ou menos vinte minutos eles iriam para uma sanduicheria que ela não conhecia, então pediu que esperassem um pouco que dali alguns minutos iria encontrar-se com eles.

Chegando à sanduicheria ela cumprimentou o pessoal e se sentou onde tinha um lugar. Começou a conversar e contar meias verdades quando o garçom veio perguntar o que iria querer, ela olhou rapidamente no cardápio e pediu, para comer, o que parecia menor e, para beber, uma garrafinha de Smirnoff, os que ouviram seu pedido olharam-na como se tivesse pedido uma garrafa com sangue de criancinha inocente, ela fingiu não perceber, alguém mais ousado arriscou uma “mas você não está dirigindo?”

– Desde quando uma garrafinha de Smirnoff afeta alguém?

Ninguém teve coragem de contrapor-se, o silencio então reinou. Passado o choque alguém comentou: “afeta fulano, lembra quando a gente foi pra praia...” e a frase se perdeu no meio da bagunça que destronou o silêncio.

O papo era totalmente entediante para Gabriella, os minutos se arrastaram até todos decidirem ir embora. Pagou sua conta, disse tchau e foi. Quando olhou para trás para observar aquele grupo peculiar (para não dizer nada pior), percebeu que todos, todos olhavam em sua direção e conversavam com as cabeças juntas e baixo, muito diferente do estardalhaço habitual.

Maravilha! Agora sou o assunto do mês, se bem que eu gosto! HA. Como sempre eles falarão e julgarão a vida alheia.

Tentou não se importar e foi para casa. Colocou o carro na garagem e foi se trocar, já que para ir a sanduicheria, ela usara uma roupa considerada adequada por seus pais, mas agora ia sair e precisa arrasar, com roupas de verdade. Então vestiu uma que ela considerou adequada e fez uma maquiagem de verdade. Quando seus pais viram-na já perguntaram onde ia a aquela hora.

– Meeu, é sábado! O Ricardo vem aqui me buscr pra gente sair.

E logo em seguida seus pais começaram os mesmos sermões: o perigo da koto, mesmo que Ricardo dirigisse bem; como era errado ficar iludindo o menino daquele jeito; que ela tinha que parar de beber antes que acontecesse alguma coisa; arranjar menos confusão; blábláblá. Gabriella já tinha ouvido tudo aquilo várias e várias vezes, então nem tentava mais faze-los parar, só fingia prestar atenção. Ouviu a buzina da moto, falou tchau para seus pais e disse que dormiria alguns dias no apartamento de Ricardo, só para que eles não chamassem a policia como já haviam feito algumas vezes antes.

Levava uma malinha, bem pequena mesmo, já que tinha coisas no quarto que ‘era seu’ no apartamento de Ricardo, que morava sozinho. As poucas horas que realmente dormira lá, na metade delas pelo menos, acordara com Ricardo deitado ao seu lado, mas não sabia o que isso realmente queria dizer.

Quando fechou o portão e se virou, deu de cara com o ponto de interrogação que era a expressão de Ricardo.

– Ué, pra que essa mala?!

– Vou dormir no seu ap, lembra? – e piscou para ele, ele sorriu.

– Vamos deixar lá, ta? Agora.

Aproveitaram e esquentaram no apartamento.

– Hum...Ri?

– Oiê.

–Por que às vezes quando eu fico aqui eu acordo com você do meu lado? – um pouco de álcool sempre punha sua timidez para dormir. Ele corou.

–ah, é porque, hum, acho que é porque depois que te ponho na cama não consigo chegar na minha...- e sorriu amarelo.

– A gente nunca...? – ele a cortou antes que ela pudesse completar a frase:

– Não não – Ele abaixou o rosto e encarou os pés, mas a expressão que Gabriella viu de relance bem que poderia ser decepção, isso inflou seu ego.

– Ah... Vamos?

– Vamos.

O clima ficou um pouco estranho, mas depois que chegaram na festa foi melhorando. Gabriella não queria estragar a “amizade” com Ricardo, mas com seu ego super-inflado e a bebida começou a provocá-lo e não parou mais. Tinha acabado de beijar uma garota enquanto Ricardo olhava não muito longe. Ele também já se encontrava num estado bem longe de santo, e Gabriella começou a encará-lo, provocava. Ele devia não estar se agüentando mais porque caminhou até ela, a puxou e beijou-a, depois de horas que estavam na festa foram realmente passar o resto da madrugada no apartamento de Ricardo.

Gabriella não lembrou muito da madrugada na tarde seguinte quando acordou, mas não conseguia e nem queria esquecer o beijo totalmente apaixonado de Ricardo. Virou-se com o braço dele ainda em volta da sua cintura e encarou aqueles olhos agora fechados e beijou-o.

– Ei, acorda – disse suavemente e passou a mão por seus cabelos.

Como estavam de ressaca, cada um pegou uma xícara de café velho e sentaram no sofá.

– E agora?

– TV, depois a gente sai pra almoçar.

– Me refiro a gente. Namorando? – e fez uma careta, como se a idéia fosse ruim, mas nem tanto.

– O que você quiser... – disse ele totalmente indiferente.

– Eu quero saber é o que você quer Ri.

– Pode ser.

– Assim não dá certo! Fala! Namoro, não-namoro, mais ou menos, uma vez e nunca mais?!?

Ele a olhou nos olhos pela primeira vez naquele dia, eles estavam vermelhos e borrados com a maquiagem do dia anterior.

– Olha, você e o mundo sabem que eu gosto muito de você.

– É – ela desviou o olhar como raramente fazia, Ricardo segurou nas mãos dela e manteve o olhar.

– E todos sabemos também que você é uma pessoa que ninguém, ninguém mesmo pode controlar, você nasceu pra ser livre, eu poderia até tentar te segurar ou te seguir, mas isso pode estragar o que a gente tem. Deixa ir, sem compromisso, ta?!

– Ta bom, mas se você mudar de idéia...

– Você vai ficar sabendo, prometo.

– Fico feliz.

Ele a beijou, dessa vez com ternura. Ela se aninhou em seu colo, ele colocou o a TV quase no mudo e ficaram assim por um bom tempo.

 

sofa

2 comentários:

  1. Essa resposta do Ricardo me surprendeu. Não acho que Gabriella seja esse bicho solto. No fundo, parece que tudo o que ela mais quer é se prender a alguém (não no sentido literal), amar e ser amada. Essa é a verdadeira liberdade que ela ainda não se permitiu experimentar.

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