sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Gabriella (The Dark Thought) – Parte 1

Aos poucos os que estavam ao seu redor foram percebendo alguma mudança. E aos poucos Gabriella já não se agüentava mais. Não sabia o que estava acontecendo com ela, tudo o que sentia, irritação, tédio, a necessidade de usar o sarcasmo, suas compulsões passageiras, estavam se tornando mais fortes, mais incontroláveis. Viu-se gritando com pessoas que supostamente amava por motivos que, depois, lhe pareciam bobos. Mostrou-se uma pessoa ácida e irritada. Num dia amava, noutro, odiava. Passava da euforia para a depressão em questão de minutos, e nada, nada do que fazia conseguia preencher aquele vazio por mais de uma hora.

Não via mais graça em ir para lugares e encontrar pessoas que antes a agradava. Nada parecia ter muito sentido afinal de contas. Qual era a graça de ir à praia, da areia, de nadar, de sair e ficar de blábláblá, de ficar sob o sol? Achou por algum tempo que estava ficando velha, rabugenta, mas nunca previra que poderia ser bem pior.

Um ou dois amigos foram falar com ela a respeito de sua “decisão radical”, primeiro ficou feliz com atenção proporcionada, mas quando insistiram que estava errada explodiu, gritou e virou algumas mesas. Como eles, que apenas fingiam que a conheciam e que eram amigos de verdade, achavam que podiam decidir o que era certo e errado para ela? Certo e errado não existiam na opinião de Gabriella, apenas o que é bom ou ruim para aquele momento. Eles eram inconvenientes. Outra suposta amiga com mania de psicóloga veio dizer lhe que todo o seu sarcasmo, sua ironia e sua crueldade era, na verdade uma armadura, um modo de se defender da aproximação das pessoas. Gabriella olhou-a bem nos olhos e disse calmamente:

– Então talvez eu mude meu nome para Shrek, que que você acha?!” – virou as costas e saiu andando.

Ser assim só a incomodava quando ela estava sozinha. Essas supostas amizades pouco significavam, ou pelo menos era nisso que ela queria acreditar. O relacionamento com seus pais piorava a cada dia, porque a eles Gabriella não podia simplesmente ignorar ou dar suas respostinhas cruéis e cheias de veneno.

Parecia que quando ficava sozinha, durante algum tempo a sanidade chegava à sua mente, dizia-lhe que alguma coisa estava muito errada e que ela precisava de um psicólogo, então a sanidade ia embora, porém a idéia do psicólogo parecia ficar martelando.

Sempre que começava uma atividade, mesmo que gostasse, ficava entediada rapidamente, só continuava porque sabia que se parasse tudo que a deixasse entediada, logo não teria mais nada para fazer.

Começou a beber e com a bebida tudo o que achava sem sentido parecia ficar um pouco mais engraçado, divertido, sua única amiga verdadeira não só não a fazia chorar ou gritar como também não deixava aquele sorriso escapar-lhe dos lábios.

Após algum tempo saindo de noite e voltando alegre para casa (nunca entendera por que isso era ruim), seus pais colocaram-na frente a eles e disseram que queriam conversar. Começaram um interrogatório, perguntaram porque ela estava bebendo, por que ignorava seus antigos amigos (se referiam aos babacas) e porque sempre arranjava uma desculpa, ou uma festa, para não ter que ir à igreja. Eram muitos porquês. Antes que Gabriella pudesse dizer qualquer coisa, a ameaçaram de cortar sua mesada e colocar horários, como toque de recolher, coisa que nunca tivera. Ela se irritou, levantou-se e começou a gritar sobre liberdade e saber o que era melhor para ela, empurrou a cadeira que antes estava sentada fazendo-a cair, chutou o sofá, pegou sua bolsa, colocou algumas coisas dentro e saiu, ainda gritando.

Enquanto estava fora, seus pais procuraram ajuda. Qualquer outro casal, digo qualquer outro casal normal procuraria ajuda profissional, um psicólogo ou algo do tipo, mas esse casal procurou o pastor da igreja, e qual foi a brilhante idéia dele? Orar por Gabriella. Que diferença faria! Marcaram então um horário para o pastor visita-los dali a alguns dias, quando as chances de Gabriella ter voltado para casa eram maiores.

girl-dancing

3 comentários:

  1. Não lembro se você já disse em algum texto anterior, mas, qual é mesmo a idade de Gabriella?

    Não acredito muito em psicólogos. Logo, não sei se seria uma boa solução para ela.

    Prossiga, está ficando bem interessante!

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  2. hum... eu arriscaria 16 ou 17 anos. Se ela tivesse 18 seria uma coisa que ela ressaltaria. Com 19, 20 acho que ela teria outros problemas que seriam citados (ou que ainda não foram) haha eu continuo com essa mania de querer antecipar as coisas.

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